quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Itaituba: a “cidade pepita” ou a “cidade da água”?

Por: Benigna Soares 
  
Ainda hoje paira no imaginário de muitos brasileiros, em especial dos paraenses e maranhenses, fragmentos da história de Itaituba, município localizado no este do Pará. Ali grandes fortunas foram construídas e também muitas tragédias foram testemunhadas. A motivação: a busca pelo ouro por milhares de garimpeiros que para lá migraram sozinhos ou levando suas famílias, principalmente no final da década de 70 até meados da década de 90, quando o governo mudou as regras de exploração e comercialização desse mineral. 

A prática de extração clandestina e de forma perigosa do ouro não foi extinta em Itaituba, onde o uso do mercúrio, letal para o homem que se contamina com ele e prejudicial ao meio ambiente, especialmente às águas dos rios e seres que nele habitam. E até os indígenas, maiores prejudicados com essa atividade, acabam aderindo ao perigoso “negócio” da garimpagem, em torno do qual outras atividades ilícitas se desenvolvem, como a prostituição, além da proliferação da malária e de outras doenças.

Entretanto, os órgãos de fiscalização e combate a essa atividade tem intensificado suas ações e a paisagem do lugar aos poucos vem mudando. É acreditando nessa mudança que Itaituba aos poucos vem despertando para uma nova atividade: o turismo. 

Mas o que Itaituba pode oferecer aos turistas? 
Muito, afinal, tem uma rica história e uma das mais encantadoras heranças naturais da Amazônia, como veremos aqui.

HISTÓRIA

Conhecido como “Cidade Pepita” Itaituba é um município da mesorregião sudeste do Pará, na região oeste. Sua fundação data de 1856 e sua história é semelhante a de muitos outros municípios paraenses, porém, construída por pessoas de diferentes naturalidades e nacionalidades.

Historiadores dão conta de que os primeiros habitantes do lugar foram os índios Mundurucus e que desde 1812 Itaituba já era mencionado na relação de viagens de Miguel João de Castro, ao rio Tapajós, como parte das expedições portuguesas naquela região. Os portugueses visavam afastar a presença de holandeses, franceses e ingleses do estuário do rio Amazonas.

Vale destacar que em 1836 Itaituba já era um aldeamento indígena pertencente ao Grão-Pará e servia como destacamento militar. Sua fundação é atribuída ao tenente coronel Joaquim Caetano Corrêa. A Lei 290, de 15 de dezembro de 1856 transferiu a sede municipal da então vila Brasília Legal, hoje Aveiro, para Itaituba, que de seus diversos desmembramentos deu origem a outros municípios: Novo Progresso, Trairão e Jacareacanga.

CIDADE DAS ÁGUAS?

Sua vocação para a extração mineral marcou a história de Itaituba nas décadas de 70 a 90 pela exploração clandestina do ouro em diversos garimpos, entre eles o Cuiu-Cuiu. Tráfico de pessoas e prostituição são heranças malditas dessa época, história esta que ainda não acabou ali no Vale do Rio Tapajós. Eram tempos de glória para o município, que foi considerado um dos mais populosos do Brasil, cuja riqueza era ostentada no cotidiano dos garimpeiros e de suas famílias.
Grandes rodeios atraíam artistas globais para a cidade que se tornava em determinadas épocas do ano um verdadeiro cenário de exposição artística e musical.  Gretchen, Amado Batista, Pepita e até Xuxa Meneghel se apresentavam na cidade patrocinados pelos garimpeiros e políticos da época com cachês milionários originários das fortunas adquiridas com o ouro.

,Mas, nos próximos anos Itaituba pode deixar de ser lembrada como a "Cidade Pepita" e tornar-se uma referência como cidades das águas, quando deve abrigar um complexo de usinas na bacia do rio Tapajós, entre os Estados do Amazonas e do Pará. O projeto surgiu desde a década de 1980 e prevê a construção de cinco usinas hidrelétricas – São Luiz de Tapajós, Jatobá, Cachoeira dos Patos, Jamanxim e Cachoeira do Caí. Dentre essas, porém, a mais significativa é a Usina de São Luiz do Tapajós, que teria potência inferior apenas a Itaipu, Belo Monte e Tucuruí e produziria 6 133 megawatts (MW) de energia a partir da construção de uma barragem de 3 483 metros de comprimento atravessada no coração da Amazônia.

A barragem, que terá 39 metros de altura, seria erguida dentro do Parque Nacional da Amazônia, a primeira unidade de conservação demarcada na Amazônia Legal e que somada a mais 11 unidades forma o complexo da bacia do Tapajós – o maior mosaico de biodiversidade do mundo.

RIQUEZA DA AMAZÔNIA

Com uma área superior a 62 mil quilômetros quadrados e população de 98.523 habitantes (IBGE/2017) Itaituba, a 1626 km de Belém, é guardião de parte do Parque Nacional da Amazônia, cuja exuberante natureza é um dos mais valiosos patrimônios do Brasil. Isso faz o município ainda mais atraente para uma nova prática econômica, o turismo, que lá pode ser explorado nos segmentos de natureza, aventura, pesca esportiva, estudos e pesquisa em cavernas, entre outros. 

ATRATIVOS TURÍSTICOS

Praias de rio, corredeiras d´água localizadas próximo ao distrito de São Luiz do Tapajós e o Parque Nacional da Amazônia são alguns dos atrativos turísticos de Itaituba, ainda mais chamativo por integrar-se a um dos grandes projetos da Amazônia, a rodovia Transamazônica, que desafia gestores e empreendedores quando se trata de desenvolvimento social e econômico daquela região e do Brasil. 

Se o turismo de natureza é chamativo à área rural de Itaituba, a sede municipal, hoje com cerca de 30 bairros, também tem seu charme. Encontramos na sede uma confusa arquitetura que mistura estilos de várias regiões do país, devido à imigração de garimpeiros de todo o Brasil e do exterior que ali fincaram suas raízes e construíram sua própria história.

Os principais pontos de referência na cidade são: Ginásio Municipal de Itaituba, praças do Centenário, do Cidadão, Celso Mateus, Tenente Coronel Joaquim Caetano Corrêa e a Fonte Monteiro Lobato. Também despertam atenção a Praça Matriz e a Praça da Paz. A Orla de Itaituba, embelezada pelos encantos do rio Tapajós, torna a cidade ainda mais atraente ao oferecer um dos mais belos pôr-do-sol do Pará.

RECOMENDA-SE

Recomendamos em sua visita a Itaituba conhecer a Caverna Paraíso, a cerca de 90 quilômetros da cidade de Itaituba. O acesso, partindo da sede municipal pela Transamazônica até o quilômetro 72, entre Itaituba e Rurópolis, fica à 15 km à esquerda da vicinal Transforlândia. O atrativo é ainda mais encantador por estar entre os igarapés Baixa Fria e Jiboia. A caverna tem mais de 300 metros quadrados de salões e galerias com estalactites, estalagmites, cortinas, travestinos, além de rios subterrâneos. Pesquisas apontam que é a primeira caverna em calcário catalogada na Amazônia.

Também recomendamos o Lago do Jacaré, a cerca de 50 minutos por via fluvial da sede de Itaituba, ideal para a pesca esportiva no rio Tapajós.

Outro atrativo é o Tabuleiro Monte Cristo, que abriga o Programa Quelônios da Amazônia – PQA, executado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que visa preservar quelônios como tartarugas, tracajás, pitiú e uma variedade de aves como talhamar, gaivota, bacurau etc., nos limites de Itaituba com Aveiro.

O Hotel Fazenda Maloquinha, no quilômetro 15 da Rodovia Transamazônica, sentido Itaituba-Jacareacanga, na margem esquerda do Rio Tapajós é ideal para passeios familiares e oferece além da paisagem natural uma arquitetura histórica , trilhas, pratica de arvorismo, banho de rio e excelente gastronomia.

O Parque Nacional da Amazônia é um atrativo à parte. São 994.000 ha, com rica floresta tropical mista e matas aluviais, igapós e formações geológicas de distintas idades, além de espécies raras de árvores terrestres e semi-terrestres, espécies de animais raros e outras riquezas naturais.

Localizado a cerca de meia hora de carro e uma hora de barco da sede municipal, o parque está na margem esquerda do rio Tapajós e é cortado pela BR-230 (Transamazônica). 

Com boa infra-estrutura, tem trilhas educativas, mirante para o Rio Tapajós e conhecê-lo é sem dúvida uma aventura inesquecível.

QUANDO VISITAR

Você pode visitar Itaituba o ano todo mas se busca praias de rio o ideal é ir durante o Verão Amazônico, que começa em meados de junho e segue até final de novembro. É quando há baixa nas águas dos rios e a areia branca e as águas cristalinas se tornam parte da paisagem natural paraense. 

RAZÕES PARA CONHECER 

O calendário festivo de Itaituba começa e fevereiro, carnaval de rua. Em julho tem o Festejo de Nossa Senhora de Sant'ana, Festival Folclórico do Aracu e Piau de Barreiras, Festival Folclórico da ASGRUFOCITA e de julho a agosto o Ita Verão. Em setembro ocorre o Concurso de Bandas e Desfile da Pátria, em outubro a Feira Agropecuária e em 15 de dezembro o aniversário de Itaituba.

A gastronomia do itaitubense é diversificada, afinal, muitas naturalidades fizeram do lugar um espaço cultural híbrido. Mas, o churrasco motivado pela inclinação do lugar para a agropecuária e os pratos típicos a base de peixes, devido à riqueza dos rios amazônicos representam as duas principais tradições gastronômicas do lugar, com excelente infraestrutura de hospedagem e serviços e transporte interno.

COMO CHEGAR

Para quem chega pela Br 230 (Transamazônica), pela PA 163 (Santarém-Cuiabá) ou Rodovial Estadual Transgarimpeira, a sede de Itaituba se conecta à região de carro pelo Porto de Miritituba, na outra margem do rio Tapajós, em frente ao município. O distrito de Miritituba é uma espécie de estação de transbordo de cargas em potencial.

O acesso aéreo conta com a estrutura do Aeroporto de Itaituba, que recebe voos regulares de companhias nacionais e regionais que conectam Itaituba a Altamira, Santarém e Belém, no Pará e também a Manaus, no Amazonas. Empresas de táxi aéreo de menor porte oferecem voos para distritos e vilarejos mais afastados do centro urbano da cidade, bem como para os inúmeros garimpos de ouro da região e municípios vizinhos.

O transporte fluvial é feito de barcos de linha ou lanchas que conectam Belém a Santarém e de lá com Itaituba e outros municípios da região.

Fotos: Site da Prefeitura de Itaituba e GV Notícias.

LEIA MAIS: WWW.BENIGNASOARES.BLOGSPOT.COM e no programa Estação Turismo, da Rádio Cultura FM (93,7) aos sábados 8h e domingo 16h. 

Fale conosco pelo e-mail benignasoares@gmail.com