quarta-feira, 1 de junho de 2022

Política, polícia, censura e prisões em Tucuruí no Dia da Imprensa

 

"Acabou mesmo de vez Tucuruí agora. Só porque a pessoa denuncia as obras púbicas que não estão sendo feitas na cidade, vai ter que ser preso. Todo mundo que denunciar alguma coisa vai ter que ser preso na cidade?”.  O depoimento, de um cidadão de Tucuruí, reflete a opinião de grande parte da população esta semana, quando a Polícia Civil cumpriu 4 mandados de busca e apreensão contra 3 vereadores locais e o pré-candidato a deputado federal Leandro Maramaldo,  que chegou a ser preso durante a ação. Na residência de Leandro a Polícia Civil afirma que encontrou drogas, mas a opinião pública é de que ele foi vítima de uma armação para intimidá-lo politicamente. 

“Durante essa vistoria ocorreram algumas perturbações no trabalho normal da unidade hospitalar e posteriormente foi constatado, pelo diretor da unidade, a subtração de alguns documentos com proteção constitucional. Ele fez a denúncia e foram seguidos todos os requisitos legais.”, justificou o delegado Thiago Mendes, que está conduzindo as pesquisas.

A operação já era aguardada pelos vereadores, que na semana passada denunciaram a gestão municipal por não dar andamento a obras, reformas e melhorias em dois espaços de saúde (Maternidade Infantil e uma UBS) e em escolas públicas do município. Impedidos de entrar na maternidade para fiscalizar o local, atendendo a denúncias da população, os vereadores precisaram acionar a Polícia Militar para cumprir seu papel fiscalizador. Mas, insatisfeito com a atitude dos vereadores, o prefeito local, Alexandre Siqueira, anunciou nas redes sociais:  

“Vamos arrancar as máscaras dessa quadrilha. A próxima semana será muito movimentada em nossa cidade”, ameaçou o prefeito, na semana passada,  em um grupo de WhatsApp (Vila Residencial Unidas) quando trocava farpas com o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Tucuruí, “Raimundo Concursado”, que vem repassando aos vereadores denúncias diversas contra a gestão.

A promessa do prefeito se cumpriu, por meio de um mandado de busca e apreensão, em nome do juiz plantonista Thiago Cendes Escórcio, no último dia 27, mas cumprido somente na manhã de terça (31), quando dezenas de profissionais de comunicação que trabalham nos veículos de imprensa do prefeito tiveram o privilégio de cobrir, com exclusividade, e fazer transmissões ao vivo pela internet dos principais momentos da operação. 

O vereador Lucas Brito (PTB) também foi alvo da operação e teve um celular levado pela polícia civil. “O motivo foi a fiscalização. Chegou uma denúncia no meu gabinete, de irregularidades na maternidade, com falta de manutenção no ar-condicionado, sala de espera totalmente inadequada, sala de descanso dos enfermeiros insalubre, sem condições mínimas de usar. Então, a gente fiscalizou e hoje eu fui surpreendido por uma busca e apreensão, uma medida da justiça”, informou Lucas Brito, vereador mais votado nas últimas eleições, oposição ao prefeito eleito. 

Para Lucas Brito, medidas judiciais não devem ser discutidas, devem ser cumpridas, mas lamentou o ocorrido. “Eu fico triste é com a situação que eu estou vivendo em nossa cidade, da ditadura”, lamentou o vereador, que anunciou na sessão da última terça (31), na Câmara de Vereadores, que entrará com pedido de cassação do mandato de Siqueira.

O vereador Renan Aguiar também foi alvo da operação e afirmou que, se houve a busca e apreensão, é porque o trabalho dos vereadores de fiscalizar e denunciar falhas da gestão fizeram efeito.  "Eu não vou me intimidar. Vou continuar trabalhando. Isso não me intimidou nem me envergonha”, declarou Renan durante sessão na Câmara.

O presidente da Câmara de Vereadores de Tucuruí, Antônio Carlos de Sousa (Titonho), afirmou à equipe do Portal Rede Pará que não iria se pronunciar sobre a operação. “Posso falar de outros temas, mas dessa operação eu prefiro não me envolver”, disse o presidente da Casa das Leis. 

Artur Brito, ex-prefeito de Tucuruí, irmão do vereador Lucas Brito, também se manifestou publicamente sobre o caso. "O povo de Tucuruí assistiu a uma ação deplorável da Polícia Civil contra os vereadores e o pré-candidato à Câmara Federal, autorizada pela Justiça. Eu não poderia me calar diante desses fatos lamentáveis. Acontece que a atividade foi disparada por uma denúncia caluniosa feita pelo atual Prefeito de Tucuruí, como recursos para calar os seus opositores políticos. É assim que ele vem fazendo campanha eleitoral". Concluiu Artur.

MANIFESTOS - Leandro Maramaldo continua preso na delegacia local, onde autoridades, representantes de movimentos sociais, militantes e familiares acamparam durante a noite de terça e desta quarta-feira (01) reivindicando a soltura dele. Para a noite de hoje está sendo mobilizada uma manifestação de apoio ao Maramaldo, quando a população vai reivindicar a liberdade do pré-candidato a deputado federal, concorrente de Andreia Siqueira, esposa do atual prefeito.

A operação e prisão ocorreu cerca de uma semana após a prisão de um comunicador de Tucuruí, Toninho Cruz, que em redes sociais expressava opinião política divergente sobre a gestão pública local.  

O prefeito, Alexandre Siqueira, anunciou entrevistas em seus veículos de comunicação hoje, Dia da Imprensa, quando deverá comentar o fato. 

O momento político reflete os bastidores da pré-campanha eleitoral em Tucuruí.

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